Francisco Cândido Xavier

Evangelho e Trabalho

 

(O Livro dos Espíritos — 674-681)

A glorificação do trabalho é serviço evangélico.

Antecedendo a influência do Mestre, a Terra era vasto latifúndio povoado de senhores e escravos. O serviço era considerado desonra.

Dominadas pelo princípio da força, as nações guardavam imensa semelhança com as tabas da comunidade primigênia. O destaque social resultava da caça.

Erguiam-se os tronos, quase sempre, sobre escuros alicerces de rapinagem.

Dever e Trabalho

O compromisso de trabalho inclui o dever de associar-se a criatura ao esforço de equipe na obra a realizar.

Obediência digna tem o nome de obrigação cumprida no dicionário da realidade.

Quem executa com alegria as tarefas consideradas menores, espontaneamente se promove às tarefas consideradas maiores.

A câmara fotográfica nos retrata por fora, mas o trabalho nos retrata por dentro.

Quem escarnece da obra que lhe honorifica a existência, desprestigia a si mesmo.

A Benção do Trabalho

 

É pela bênção do trabalho que podemos esquecer os pensamentos que nos perturbam, olvidar os assuntos amargos, servindo ao próximo, no enriquecimento de nós mesmos.

Com o trabalho, melhoramos nossa casa e engrandecemos o trecho de terra onde a Providência Divina nos situou.

Ocupando a mente, o coração e os braços nas tarefas do bem, exemplificamos a verdadeira fraternidade, e adquirimos o tesouro da simpatia, com o qual angariaremos o respeito e a cooperação dos outros.

Trabalho

 

Se nos propomos retratar mentalmente a luz dos Planos Superiores, é indispensável que a nossa vontade abrace espontaneamente o trabalho por alimento de cada dia. 

No pretérito, apreciávamo-lo por atitude servil de quantos caíssem sob o ferrete da injúria. 

A escola, as artes, as virtudes domésticas, a indústria e o amanho do solo eram relegados a mãos escravas, reservando-se os braços supostos livres para a inércia dourada. 

No Templo da Educação

 

Distribuía o Mestre os dons divinos

Da luz do seu Espírito sem jaça,

E exclama, enquanto a turba observa e passa:

— «Deixai virem a mim os pequeninos!…»

 

 

Caridade

 

Caridade é a mão terna e compassiva

Que ampara os bons e aos maus ama e perdoa,

Misericórdia, a qual para ser boa,

De bens paradisíacos se priva.

 

Mão radiosa, que traz a verde oliva

Da paz, que acaricia e que abençoa,

Voz da eterna verdade que ressoa

Por toda a parte, promissora e ativa.

 

A caridade é o símbolo da chave

Que abre as portas do céu claro e suave,

Parnaso de Além-Túmulo

 

Além do túmulo o Espírito inda canta

Seus ideais de paz, de amor e luz,

No ditoso país onde Jesus

Impera com bondade sacrossanta.

 

Nessas mansões, a lira se levanta

Glorificando o Amor que em Deus transluz,

Para o Bem exalçar, que nos conduz

À divina alegria, pura e santa.

 

Dessa Castália eterna da Harmonia

Transborda a luz excelsa da Poesia,

Mensagem Fraterna

 

Meu irmão: Tuas preces mais singelas

São ouvidas no espaço ilimitado,

Mas sei que às vezes choras, consternado,

Ao silêncio da força que interpelas.

 

Volve ao teu templo interno abandonado,

— À mais alta de todas as capelas —

E as respostas mais lúcidas e belas

Hão-de trazer-te alegre e deslumbrado.

 

Ouve o teu coração em cada prece.

Deus responde em ti mesmo e te esclarece

Marchemos!

 

Há mistérios peregrinos

No mistério dos destinos

Que nos mandam renascer:

Da luz do Criador nascemos,

Múltiplas vidas vivemos,

Para à mesma luz volver.

 

Buscamos na Humanidade

As verdades da Verdade,

Sedentos de paz e amor;

E em meio dos mortos-vivos

Somos míseros cativos

Da iniquidade e da dor.

 

É a luta eterna e bendita,

Ajuda e Passa

 

Estende a mão fraterna ao que ri e ao que chora:

O palácio e a choupana, o ninho e a sepultura,

Tudo o que vibra espera a luz que resplendora,

Na eterna lei de amor que consagra a criatura.

 

Planta a bênção da paz, como raios de aurora,

Nas trevas do ladrão, na dor da alma perjura;

Irradia o perdão e atende, mundo afora,

Onde clame a revolta e onde exista a amargura.

 

Páginas