Antônio de Pádua

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Antônio de Pádua, nome adotado por Fernando Martim de Bulhões,  nasceu em Lisboa, aos 15 de agosto de 1195, filho de Martim de Bulhões e de Teresa Taveira.

 

Sua cidade natal era composta por população miscigenada e diversa: com traços árabes e romanos tanto nas feições quanto em aspectos culturais anteriores ao Cristianismo. Sendo assim, o acesso ao ensino era exclusivamente organizado e coordenado pelo clero, nas Sés, onde se aprendia gramática, latim e música.

 

Devido ao prestígio familiar, o jovem Fernando de Bulhões iniciou seus estudos na Sé de Lisboa, próxima da casa onde nasceu, ali ficando até os quinze anos de idade.

 

De acordo com Almerindo Martins de Castro, na obra “Antônio de Pádua, sua Vida de Milagres e Prodígios”, livro editado pela Federação Espírita Brasileira, a vivência na Sé de Lisboa foi muito importante para a aquisição de conhecimentos e ainda para a percepção dos valores que animam seu coração.

 

“Esboçadas no seu espírito as primeiras lutas que deviam marcar o início da missão que trouxera, decidiu-se entrar, em 1211, para o convento dos frades agostinhos, em São Vicente de Fora, onde pouco permaneceu, porque seu feitio moral não se coadunava com as perturbações que o importunavam e impediam de estudar e concentrar-se, motivando transferir-se para o retiro de Coimbra, em 1212”.

 

Em Coimbra teve a oportunidade de aprofundar nos conhecimentos de filosofia e teologia. Nesse momento, pode aprimorar suas faculdades mediúnicas que o levariam a ficar conhecido pela população sendo mais tarde o traço fundamental da sua inconfundível figura. Segundo o pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Ronaldo Vainfas, Antônio de Pádua “ficou afamado como poderoso taumaturgo*, constando oficialmente de sua hagiografia* a realização de mais de 50 milagres: ressurreições, controle de forças naturais, domesticação de animais, inclusive selvagens, curas de variadas moléstias”.

 

A vida de Antônio dentro dos muros da instituição religiosa foi marcada por intenso estudo, mas também por alguns desgostos devido aos males que deturpavam a Igreja e tinham desvirtuado a doutrina de Jesus Cristo. Em especial a riqueza do mosteiro em contraste com a miséria vivida pela grande massa da população ao redor, as controvérsias vergonhosas sobre imunidades e dízimos e troca de lucros materiais por negócios espirituais.

 

Tal situação é ponderada por Almerindo Martins de Castro em seu livro que aponta: “A religião dele não conhecia a aplicação da aritmética à moral cristã; o Jesus que ele conhecia era o do Evangelho, não o que os monges e os prelados invocariam na defesa dos cálculos deles; era o mesmo que Francisco de Assis amava infinitamente, o mesmo cujo amor inspirara ao divino louco da Itália a regra dos frades menores, dos pobres do Cristo. Esta pobreza representava-se ao entendimento de Fernando como a verdadeira riqueza do monge”.

 

As inquietações de Antônio, seu exemplo de dedicação à mensagem do Cristo também foram deturpados pelo poder político e religioso dominante o que foi apontado pelo pesquisador Ronaldo Vainfas: “Martelo das Heresias a Santo da Restauração: eis uma construção tipicamente luso-brasileira do século XVII. Foi o santo que, no imaginário político da época, “reencontrara” a soberania de Portugal e recolocaria a América Portuguesa outra vez nas mãos da antiga metrópole. O certo, porém, é que o imaginário político luso-brasileiro transformou o campeão da fé em soldado da monarquia restaurada e de suas conquistas ultramarinas”.

 

A grande realização intelectual e emocional na vida de Antônio teve início em 1220, com a chegada a Coimbra das relíquias de cinco mártires franciscanos mortos no Marrocos. Ao tomar conhecimento do trabalho desses missionários, Antônio ficou muito comovido e imediatamente entrou para a ordem dos franciscanos. Foi então que adotou o nome de Antônio, até então usava o nome de batismo, Fernando, e partiu para o Marrocos. Contudo, mal chegou ao país, ficou doente e teve que retornar a Europa.

 

Antônio chegou a realizar o desejo de conhecer Francisco de Assis o qual o designou, pessoalmente, para lecionar teologia aos frades de Bolonha. Com apenas vinte e seis anos de idade, Antônio foi eleito provincial dos franciscanos do norte da Itália. Apesar de aceitar o cargo, não permaneceu por muito tempo, pois sua vontade era pregar pelas vilas e cidades, atendendo aos necessitados. Assim percorreu várias regiões da Itália e do sul da França.

 

Antônio de Pádua desencarou em 13 de junho de 1231, na Itália, com apenas trinta e seis anos de idade, sendo sepultado numa basílica que se tornou lugar de peregrinação. Ele foi canonizado no ano seguinte pelo papa Gregório IX.

 

 

Mediunidade a serviço da humanidade

 

As faculdades mediúnicas de Antônio de Pádua são inegáveis, tanto que são inúmeros os “milagres” atribuídos a ele cujos registros levaram à sua canonização.

 

A respeito da mediunidade de cura, Almerindo Martins de Castro narra que: “Em Pádua, certa mulher, que tinha um filho paralítico das pernas e dos braços desde a nascença, ouvindo falar dos poderes de Antônio, foi procurá-lo e rogou, apresentando-lhe o menino, que o curasse. Antônio, invocando Jesus-Cristo e impondo as mãos sobre o enfermo, traçou o sinal da cruz (que era o modo de Passe usado então) e o sarou imediatamente”.

 

Reconhecido pela palavra inspirada, suas pregações eram ouvidas por bispos, padres, freiras, nobres e plebeus, de toda parte. Almerindo Martins de Castro ainda nos relata em seu livro que:

 

“Fechavam-se as tendas de comércio. E Antônio era escutado por todos, no meio de silêncio quase incrível, diante de tanta gente reunida. É que os Espíritos irradiavam a voz do médium, tanto assim que uma senhora, estando proibida pelo esposo — incrédulo — de assistir a uma dessas pregações, e achando-se a chorar, debruçada à janela da casa, ouviu, entre assustada e cheia de júbilo pela revelação de forças estranhas, todas as palavras que Antônio proferia no púlpito, erguido a quase meia légua de distância”.

 

Sobre a capacidade de bicorporeidade, Allan Kardec destaca a seguinte história: “Santo Antônio de Pádua estava pregando na Itália (vide Nota Especial à página 187), quando seu pai, em Lisboa, ia ser supliciado, sob a acusação de haver cometido um assassínio. No momento da execução, Santo Antônio aparece e demonstra a inocência do acusado. Comprovou-se que, naquele instante, Santo Antônio pregava na Itália, na cidade de Pádua”.

 

O codificador solicita ao orientador espiritual que se apresenta como Santo Afonso uma explicação para o fato de Antônio estar em dois lugares ao mesmo tempo segundo as narrativas e a resposta nos mostra a grandeza dessa alma: “Perfeitamente. Quando o homem, por suas virtudes, chegou a desmaterializar-se completamente; quando conseguiu elevar sua alma para Deus, pode aparecer em dois lugares ao mesmo tempo [...]”

 

*taumaturgo: 1 que ou quem opera milagres (diz-se esp. de santos católicos); milagreiro. 2 que ou aquele que adivinha; visionário.

*hagiografia: 1 biografia ou estudo sobre biografia de santos. 2 biografia excessivamente elogiosa.

 

 

Referências

 

KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. Federação Espírita Brasileira.

 

CASTRO, Almerindo Martins de. Antônio de Pádua — Sua Vida de Milagres e Prodígios. 7ª edição, Federação Espírita Brasileira, 1987.

 

VAINFAS, Ronaldo. Santo Antônio na América Portuguesa: religiosidade e política. REVISTA USP, São Paulo, n.57, p. 28-37, março/maio 2003 (disponível em: http://www.revistas.usp.br/revusp/article/viewFile/33831/36564)

 

VIEIRA, Antônio, SJ. Santo Antônio, Luz do Mundo (nove sermões). Organização, introdução e notas de frei Clarêncio Neotti, OFM. Petrópolis, Vozes, 1997.